A fogueira de xango

03/10/2011 22:26

 

Fragmentos de Textos extraído do livro de José Flávio Pessoa de Barros

Festa de Xangô no terreiro de Obaladô no Rio de Janeiro

 

A CASA EM FESTA - OS SÚDITOS 

O sol se põe, e começa a escurecer na casa de Obaladô . A casa de Xangô,especialmente iluminada nestedia, aguardava o início da festa. As árvores do terreiro foram plantadas por Obaladô a mais de 21 anos,quando recebera de Xangô , seu orixá, a ordem de abrir uma casa – de – santo.

Lenta e calmamente, interrompe suas divagações, dirigindo-se para frente da casa – de –Airá sentando-se em um pequeno banco. A poucos metros erguia-se majestosamente a fogueira, armada be cedo e jácontendo os axés próprios do orixá do fogo.

A um aceno seu , uma filha de Oiá traz o seu Adjarim. Obaladô, com delicadeza, apanha a sineta que, ao ser vibrada, anuncia o início de uma reza.

As esteiras são estendidas e sobre elas os iniciados se ajoelham, busto curvado, pousando a cabeça no chão, em direção a Obaladô. Sua voz faz-se ouvir, então, salmodiando cada verso como um lamento, um canto em solo é ouvido e que se repetirá por três vezes. È um lento responsório, em que o oficiante canta primeiro, acompanhado em um segundo momento , pelos presentes.

 

Oba kawòó o                                 Ó Rei, meus cumprimentos.

Oba kawòó o                                 Ó Rei, meus cumprimentos.

O, o, Kabíyèsílè                              Sua majestade, o Rei mandou construir uma casa.

Oba ni kólé

Oba séré                                      O Rei do xere, o Rei prometeu e traz boa sorte,

Oba njéje                                     o dono do pilão.

Se´re aládóBongbose O ( wo )        bitiko   Bamboxé abidikô, meus cumprimentos ( ao )

Osé Kawòó                                  Oxé, sua majestade.

O, o, Kábíyèsilé                             Meus cumprimentos.

 

 

Ó níìka, ó níìka árá ìn álàde o             Ele é cruel, o trovão é cruel sim. O dono da coroa é cruel.

Ó níìka àwe jé atètu                        Ele é cruel, ele é cruel(o trovão )Eu jejuo para o punidor.

 Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó     Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.

Ma sè                                          Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).

 Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó    Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.

Ma sè                                          Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).

Yèyé, kèrè-kèrè lo ni joko ayagba     O pássaro vagarosamente senta e chora para as grandes  mães.                                                  

 Ale odó ma sè                              Forte como um pilão, como um tambor ( barulho )

 

 

A reza diz que o trovão é cruel, implorando a Badé... "ele é a voz estrepitosa e aterrorizante do Trovão, é aforça que deflagra a carga irregular dos raios". Os nagôs dizem ser Badé é um vodum , isto é, de origem  jêje , e que os  jêjes do maranhão, dizem que é um orixá nagô e que, quando ele se apresenta na Casa –das –Minas, fala por sinais para não revelar os segredos dos nagôs.

 

Os pássaros lembram as feiticeiras que ameaçam os seres humanos, é necessário implorar as grandesmães senhora dos pássaros, para que não flagelem os homens. Airá também é mencionado no texto sagrado, recolhido entre os que se originam do axé de IÁ Nasô . Este Orixá ocupa um lugar especial nesta comunidade, estando ligado a primeira no nominação... Axé Airá Intilé.

 

Novamente o Adjarim anuncia que o Rei Xangô continuará sendo louvado, e uma nova reza começa:

 

 

Oba ìrú l´òkò                     O Rei lançou uma pedra.

Oba ìrú l´òkò                     O Rei lançou uma pedra.

Ìyámasse kò wà                 Iyámasse cavou ao pé de uma grande

Ìrà oje                              árvore e encontrou.

 Aganju ko má nje lekan       Aganju vai brilhar, então , mais uma vez como trovão.

 Árá l´okò láàyá                 Lançou uma pedra com força (coragem)

Tóbi òrìsà,                         O Grande Orixá do orum (terra dos ancestrais) vigia.

Oba só òrun                       O Rei dos trovões, está no pé

 Árá oba oje                       de uma grande árvore ( pedra de raio)

 

 

A oração saúda o Rei dos trovões, como sendo Aganju, o Alafin de Oió , filho de Ajaká e sobrinho de

Xangô. Iamassê considerada sua mãe é quem revela aos mortais, que a pedra de raio, símbolo do seu poder, é encontrada ao pé de uma grande árvore. O brilho dos raios e o barulho dos trovões lembram que Aganju vigia do orum , terra dos ancestrais, seus súditos fiéis.

 

O Adjarim marca um novo momento, Obaladô levanta-se e se dirige a casa de Xangô pousando no chão da mesma uma gamela cheia de Amalá , a comida predileta deste orixá.

 

Béè ni je a! pá bo      Sim, comer(amalá) dentro (de uma gamela) com satisfação, de uma só vez, adorando.

Je bí o o ni a! pá bo   Comer, nascer dele, dentro(de uma gamela)com satisfação, de uma só vez, adorando.

 

E ni pá léèrín àdá bá lài    Cortado muitas vezes(o quiabo),sempre com cutelo, dentro da gamela.

 

Ìmó wá mònà mòwé           Procurar conhecimento,

Kó je nà mímò àsé             certamente torna inteligente.

Kó je nà mímò àsé             A comida (amalá) faz adquirir 

Kó je nà mímò àsé             e aumenta o conhecimento do Axé

 

 

A reza indica que, ao se desfrutar da comida sagrada, descobre-se o axé, isto é, a força, que dá conhecimento e sabedoria aos que delas usufruem. Nos últimos acordes da reza, os ogans de Xangô pousam os xeres e acendem a fogueira. Varias vozes gritam...

 

Kawòó Kàbíyèsilè !!! Kawòó Kàbíyèsilè !!! = Meus cumprimentos à sua majestade !!!

 

Obs.: trechos das rezas na play list ao lado.

 

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